A conexão que existe entre biodiversidade e clima é intrínseca. O que acontece com um impacta o outro, mas essa percepção – de que esses dois elementos do nosso planeta caminham juntos – é algo que começou a receber a devida atenção nos grandes debates nacionais e internacionais apenas recentemente.
Qual é e como funciona essa relação entre clima e diversidade biológica? Como a emergência climática e a perda da biodiversidade influem uma sobre a outra?
Para começar, explicamos aqui o básico sobre a biodiversidade e as mudanças climáticas, para ajudar a compreender por que é preciso enfrentar desafios que os dois apresentam de forma simultânea.
O que são mudanças climáticas
Mudanças climáticas são transformações que ocorrem a longo prazo nos padrões de clima e temperatura. Ou seja, se alguém disser que o clima sempre mudou, está certo! No entanto, o que acontece atualmente é que a temperatura média da superfície do planeta está aumentando de forma acelerada desde meados do século 19 – o que não condiz com o padrão dos últimos milhares de anos de história do planeta. As concentrações de dióxido de carbono (CO2) observadas hoje não têm precedentes em pelo menos 800 mil anos, que é até onde os cientistas já conseguiram medir diretamente.
Essa transformação está sendo causada pelas atividades dos seres humanos – em especial, a queima de combustíveis fósseis, que aumentam a concentração de gases de efeito estufa na atmosfera e levam ao aquecimento global, já confirmado pela ciência, como afirmam os últimos relatórios do IPCC, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças do Clima. As consequências incluem a maior ocorrência e intensidade de fenômenos climáticos extremos.
E o que são fenômenos climáticos extremos? Já estamos vivenciando-os em vários pontos do planeta. Secas mais intensas e por tempo mais longo que o normal, ondas de calor fora de época, excesso ou falta de chuvas e furacões mais fortes e frequentes.
Os impactos que mais saltam aos olhos são alagamentos e enchentes, deslizamentos de terra, falta de água e plantações arrasadas, mas há muitos outros, incluindo elevação no nível do mar, derretimento de geleiras, extinção de espécies e desertificação.
Vivemos uma crise climática e uma emergência climática: as mudanças climáticas já são um fato e, além da necessidade global de reduzir emissões de gases de efeito estufa (mitigação), já estamos tendo de lidar com seus impactos e consequências (adaptação para criar resiliência).
O que é biodiversidade
A biodiversidade, ou diversidade biológica, se refere a todas as formas de vida que existem no planeta – plantas, animais, fungos, microrganismos e outros seres vivos –, incluindo suas variações genéticas e seus habitats. Também engloba a forma como as espécies se relacionam entre si e com seus habitats, formando ecossistemas. Em geral, quanto mais espécies existem em uma área, mais biodiversa ela é.
A biodiversidade oferece uma série de benefícios para nós, humanos. São o que chamamos de serviços ecossistêmicos (também há quem chame de serviços ambientais, mas especialistas defendem que há uma diferença entre os dois termos).
Mais da metade do PIB global depende da natureza, e mais de 1 bilhão de pessoas dependem diretamente das florestas para viver.
No entanto, a biodiversidade está ameaçada no mundo todo. O relatório “Planeta Vivo 2022”, do WWF, indica que as populações de vida selvagem monitoradas caíram 69%, em média, entre 1970 e 2018. E mais: “A América Latina apresenta o maior declínio regional na abundância média da população (94%), enquanto as populações de espécies de água doce registraram o maior declínio global (83%)” diz o estudo.
O desequilíbrio dos ecossistemas leva à ruptura de cadeias alimentares e de ciclos de reprodução de animais e plantas, ao desaparecimento de espécies, a alterações na qualidade e volume de águas e à perda de nutrientes no solo. As consequências são sentidas por todos nós.
Conexão entre biodiversidade e mudanças climáticas
Segundo a Convenção da Diversidade Biológica, da ONU, as cinco principais causas da perda da biodiversidade são a poluição, a superexploração, as espécies invasoras, as mudanças no uso da terra e do mar e ela: as mudanças climáticas.
De um lado, a cada 1 grau que a temperatura sobe, mais espécies perdem seus habitats por causa da alteração que essa elevação provoca nos ecossistemas. Animais, plantas e outros seres vivos, seja na terra ou no mar, dependem de regularidade de chuvas, de períodos de seca e de temperaturas adequadas para o seu hábitat.
Mudanças nesses aspectos forçam animais e plantas (sim, estas também) a se deslocarem para outras regiões com melhores condições de sobrevivência ou, então, levam as espécies à extinção.
Por outro lado, os diversos ecossistemas terrestres, marinhos, costeiros, entre tantos outros, que existem no planeta, armazenam grandes quantidades de carbono – elas absorvem, por exemplo, as emissões provocadas por atividades humanas. Esse é um importante serviço ecossistêmico.
Mas a perda de vegetação nativa, em especial as florestas, por causa de atividades como desmatamento, e a degradação do solo fazem com que mais carbono seja liberado ou deixe de ser absorvido da atmosfera, contribuindo, assim, para o aquecimento global e mudanças climáticas. Um clima mais quente e seco também favorece queimadas das florestas, que, ao serem consumidas pelo fogo, lançam o carbono armazenado à atmosfera.
Por isso, os ecossistemas saudáveis, com a biodiversidade conservada, são fundamentais para a mitigação das mudanças climáticas. E o clima é fundamental para a manutenção e saúde dos ecossistemas.
Biodiversidade e clima formam um ciclo, que pode ser virtuoso ou vicioso. Uma coisa interessante, e fundamental, é que as soluções para um também contribuem para o outro. Muitas iniciativas e ações precisam ser feitas, e algumas já estão acontecendo, mas é necessário que ocorram com eficiência e com velocidade, para evitar a perda da biodiversidade e para mitigar as mudanças climáticas.
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